Entre fake news e discurso de ódio: O Brasil na era da pós-verdade

 

  • Julio Antonio Bonatti SantosUniversitat de València

Palavras-chave: 

fake news, pós-verdade, discurso de ódio, Jair Bolsonaro, Brasil

RESUMO

Neste artigo, tentamos analisar o papel do uso de fake news nas eleições brasileiras de 2018 e durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, entendido como um método de construção da hegemonia política. Buscaremos mostrar como o uso constante de notícias falsas cria um clima de supressão factual e estabelece uma nova posição discursiva para a verdade (D'ANCONA, 2018), na era pós-verdade: onde a materialidade dos fatos é reprimida pela crença popular em outros fatores que conferem status de verdade aos discursos. É neste contexto que a expressão “fake news” se torna evidente: ela é constitutiva da deturpação da realidade para fins não apenas de desinformação, mas acima de tudo de propaganda (JACK, 2017). Vemos atualmente, com o uso de notícias falsas por grupos autoritários, como se recrudesce o apelo às crenças pessoais, especialmente aos valores tradicionais e ao discurso do ódio (WALDRON, 2010). Os apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais, assim como os próprios pronunciamentos do presidente, frequentemente demonstram uma clara perseguição a seus oponentes, principalmente através da divulgação de informações falsas ou imprecisas para combatê-los. Com isso, traremos aqui algumas declarações exemplares que circularam amplamente durante a campanha presidencial de 2018 no Brasil e durante o governo Bolsonaro, principalmente durante o período mais crítico da pandemia da COVID-19, para ilustrar como seus seguidores, assim como ele próprio, usam notícias falsas como método constitutivo de seus discursos, incitando um discurso de ódio e constante perseguição a seus opositores políticos, configurando uma prática geralmente típica de concepções antidemocráticas.

REFERÊNCIAS

BAKIR, Vian; MCSTAY, Andrew (2018). Fake news and The Economy of Emotions. Digital Journalism, 6:2, 154-175, DOI: 10.1080/21670811.2017.1345645.

BARRAGÁN, Almudena (2018). Cinco “fake news” que beneficiaram a candidatura de Bolsonaro. El País. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/18/actualidad/1539847547_146583.html. Acesso em: 23, setembro, 2022.

BRULLER, Hélène (2018). Aparelho Sexual e Cia. São Paulo: Seguinte.

CHAURAUDEAU, Patrick (2005). Le discours politique. Les masques du pouvoir. Paris: Vuibert.

CHOMSKY, Noam; HERMAN, Edward (1988). Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass Media. New York: Pantheon Books, 1988.

D´ANCONA, Matthew (2018). Pós-verdade: a nova guerra contra os fatos em tempos de fake news, trad. de Carlos Szlak. Barueri, Faro Editorial.

DERRIDA, Jacques (1996). História da mentira: prolegômenos. In: Estudos Avançados, 10(27), 7-39. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/8934. Acesso em: 23, setembro, 2022.

FERNANDES, Leonardo (2018). E quem checa as agências de checagem de notícias falsas? Brasil de Fato: 15 de junho de 2018. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2018/06/15/e-quem-checa-as-agencias-de-checagem-de-noticias-falsas/. Acesso em: 23, setembro, 2022.

GINZBURG, Carlo (2007). O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Editora Companhia das Letras.

JACK, Caroline. (2017). Lexicon of lies: Terms for problematic information. Data & Society Research Institute: Data & Society Publication. Disponível em: https://datasociety.net/pubs/oh/DataAndSociety_LexiconofLies.pdf. Acesso em: 23, setembro, 2022.

MOLINA, Maria D.; SUNDAR, Shyam; LE, Thai y LEE, Dongwon (2019). “Fake news” Is Not Simply False Information: A Concept Explication and Taxonomy of Online Content. October 2019: American Behavioral Scientist, v. 65, 2: pp. 180-212. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/0002764219878224. Acesso em: 23, setembro, 2022.

TARDÁGUILA, Cristina; BENEVUTO, Fabrício; ORTELLADO, Pablo (2018). Fake news Is Poisoning Brazilian Politics. WhatsApp Can Stop It. The New York Times, United States, NY, 17 out. 2018. Opinion, p. xx. Disponível em: https://www.nytimes.com/2018/10/17/opinion/brazil-election-fake-news-whatsapp.html. Acesso em: 23, setembro, 2022.

THWEATT, Elizabeth (2001). Bibliography of hate studies materials. Disponível em: guweb2.gonzaga.edu/againsthate/thweatt.pdf. Acesso em: 23, setembro, 2022.

VICTOR, Fabio (2017). Notícias falsas existem desde o século 6, afirma historiador Robert Darnton. Folha de São Paulo, São Paulo, 19 de fev. de 2017. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/02/1859726-noticias-falsas-existem-desde-o-seculo-6-afirma-historiador-robert-darnton.shtml. Acesso em: 23, setembro, 2022.

WALDRON, Jeremy (2010). Dignity and defamation: the visibility of hate. Harvard Law Review, v. 123, n. 1.596, p. 1.597-1.657.

Tecnologia do Blogger.