“Para que fique isento de todo cativeiro”: senhores, escravos e as possibilidades da alforria nas senzalas da antiga Comarca do Rio das Mortes (São João del-Rei, século XIX)

Bruno Martins de Castro*

 

 DOI: 10.5281/zenodo.10701141



* Doutorando em História Social pelo PPGHIS-UFRJ e professor efetivo de História da rede pública estadual de ensino de Minas Gerais (SEE/MG). É integrante do grupo de pesquisa “Escravismo Atlântico: família, riqueza e cultura” (UFMG/CNPq) e membro do GT Emancipações e Pós-abolição em Minas Gerais (ANPUH-MG). Atua ainda como editor da Revista Ars Historica, periódico vinculado ao Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail: brunomartinsdecastro@gmail.com



Resumo

O presente artigo tem por intuito analisar os processos de alforrias do termo de São João del-Rei, sede administrativa da Comarca mineira do Rio das Mortes, entre as décadas de 1830 e 1860, buscando conhecer e caracterizar os senhores manumissores, o tamanho de suas senzalas, seus escravos e as possibilidades que estes tiveram de se libertar. Por meio da identificação dos proprietários que alforriaram seus cativos no tabelionato de notas públicas do 1º e do 2º Ofícios, pudemos verificar a periodicidade dessas concessões e as modalidades das manumissões mais praticadas. Perpassada pela lógica da dominação senhorial, a prática da alforria não se restringiu apenas às concessões feitas nas cartas registradas em cartório. Muitos desses proprietários declararam em seus testamentos a intenção de libertar outros escravos, inclusive, legando a alguns deles esmolas, imóveis urbanos e propriedades rurais. Por meio do levantamento dos inventários post mortem dos proprietários manumissores sanjoanenses pudemos classificar o padrão de suas posses em pequenas, médias e grandes escravarias. O cruzamento dessas informações com as alforrias registradas em cartório e em seus testamentos nos possibilitou identificar, em termos absolutos e proporcionais, em quais dessas senzalas a liberdade era mais frequente. A hipótese levantada para justificar a ocorrência de um maior ou menor número de liberdades nos diferentes tamanhos de posse reside, principalmente, na interpretação das alforrias enquanto um poderoso dispositivo senhorial no governo dos escravos e na natureza relacional cotidiana estabelecida entre estes e seus senhores.

 

Palavras-chave: Escravidão; Alforrias; Senhores de escravos; São João del-Rei.


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