As aporias do sujeito no romance de Samuel Beckett
Palavras-chave:
História, Literatura, SujeitoRESUMO
O presente artigo tem como objetivo iniciar uma reflexão sobre uma categoria que julgo central na obra do poeta, romancista, dramaturgo e ensaísta irlandês Samuel Barclay Beckett (1906-1989), a categoria do sujeito. A reflexão parte da própria obra de Beckett, com foco sobre uma novela, Primeiro amor, e um romance, Molloy, ambos escritos ao final da década de 1940, realizando também um sobrevoo sobre outras obras que permitem o aprofundamento da discussão. Assim, proponho que aqui o problema do sujeito não pode ser separado de outras duas dimensões, a linguagem e aquilo que, na obra em questão, aparece como “mundo” – o “não-eu” do narrador, aquilo ao qual ele se opõe e que ele tenta insistentemente descrever. O sujeito de Beckett é marcado por uma intensa instabilidade, na medida em que ele não pode enquadrar uma noção de identidade articulada de modo narrativo. Vemos, então, que o problema do sujeito se desdobra sobre uma instabilidade da própria linguagem, o que terá grandes consequências para a forma do romance de Beckett.
REFERÊNCIAS
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